sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Trecho de "O Cemitério de Praga" de Umberto Eco

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Depois de publicar alguns livros, um atrás do outro, Taxil já estava esgotando o pouco que sabia sobre a maçonaria. Ideias frescas só lhe vinham da Diana "má" que emergia sob hipnose e que, com os olhos arregalados, contava cenas às quais talvez houvesse assistido, ou das quais ouvira falar na América ou que simplesmente imaginava. Eram histórias que nos deixavam com as respiração suspensa e devo dizer que, mesmo sendo homem de experiência (imagino), eu ficava escandalizado. Por exemplo, um dia ela começou a falar da iniciação da sua inimiga, Sophia Walder, ou Sophia Sapho se preferirem, e não entendíamos se percebia o sabor incestuoso de toda a cena, mas certamente não a narrava em tom de esconjuro, e sim com a excitação de quem, privilegiada, vivera aquilo.
- Foi o pai dela - dizia lentamente Diana - quem a fez adormecer e lhe passou um ferro ardente sobre os lábios... Devia assegurar-se de que o corpo fosse isolado de qualquer cilada proveniente de fora. Ela trazia ao pescoço uma joia, uma serpente enrolada... Pois bem, o pai lhe tira o colar, abre um cesto, estrai dali uma serpente viva e a pousa sobre o ventre dela... É belíssima, parece dançar enquanto rasteja, sobe até o pescoço de Sophia e se enrola para tomar o lugar da joia... Agora sobe até o rosto, estira a língua, que vibra, até os lábios, e a beija, sibilando. Como é... esplendidamente... escorregadia... Agora, Sophia desperta, tem a boca espumante, levanta-se e fica em pé, rígida como uma estátua; o pai lhe desata o corselete, deixa seus seios nus! E, agora, com uma varinha, finge escrever sobre o peito dela uma pergunta  as letras se gravam vermelhas sobre a carne; a serpente, que parecia haver adormecido, desperta sibilando e move a cauda para traçar a resposta, sempre sobre a carna nua de Sophia...
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