terça-feira, 8 de janeiro de 2013

A cabeça de corvo - Alphonsus de Guimaraens

LA CABEZA DE CUERVO

Traducido por Anderson Braga Horta
Calmo, a lo largo de la noche lenta,
Escribo, insomne. A un lado de la mesa
Un negro tintero hay que la cabeza
   De un cuervo representa.
Mudo lo miro y así me mortifico
Y en mi dolor atroz más me concentro:
Y entreabriendo su grande y fino pico
Meto la pluma en su garganta adentro.
Y solo, de su panza, poco a poco,
Voy sacando la pluma inmersa en tinta...
Y mi mano, que tiembla toda, pinta
   Versos propios de un loco.
Con su abierto ojo vítreo, la funesta
Ave que representa mi tintero
Sigue mi mano, que camina, presta,
Temblando toda en el papel entero.
Me dicen cuantos me desean vivo
Que lance fuera ese agorero cuervo,
Pues sangra de él este descreer protervo
   De los versos que escribo.

Alphonsus de Guimaraens



 A CABEÇA DE CORVO  

Na mesa, quando em meio à noite lenta
Escrevo antes que o sono me adormeça,
Tenho o negro tinteiro que a cabeça
  De um corvo representa.

A contemplá-lo mudamente fico
E numa dor atroz mais me concentro:
E entreabrindo-lhe o grande e fino bico,
Meto-lhe a pena pela goela a dentro.

E solitariamente, pouco a pouco,
Do bojo tiro a pena, rasa em tinta...
E a minha mão, que treme toda, pinta
   Versos próprios de um louco.

E o aberto olhar vidrado da funesta
Ave que representa o meu tinteiro,
Vai-me seguindo a mão, que corre lesta.
Toda a tremer pelo papel inteiro.

Dizem-me todos que atirar eu devo
Trevas em fora este agoirento corvo,
Pois dele sangra o desespero torvo
   Destes versos que escrevo.


Alphonsus de Guimaraens


Nenhum comentário:

Postar um comentário