domingo, 16 de setembro de 2012

Passeio sem volta

Passeio sem volta


Vick era uma garota apaixonada pela noite. Os sons, as sombras, o céu, e todos os seus aspectos a fascinavam. Gostava de sair apenas para refletir e contemplar a beleza do luar e das estrelas no silêncio das noites.
Em uma dessas noites, estava sentada em uma calçada, a alguns quarteirões de sua casa, quando viu alguém se aproximando. Após alguns segundos analisando, pode concluir que era um rapaz jovem, e que vestia um moleton, calça jeans e usava tênis. Andava tranquilamente de cabeça baixa, como que esquadrinhando cada passo. Vick desviou o olhar e o sujeito sentou ao seu lado.
Ficaram ali, parados em silêncio, durante um tempo, olhando para o céu e ouvindo alguns sons distantes.
- É linda não é? – comentou a garota.
- É. Fascinante.
Falaram essas palavras sem desviar o olhar da lua em seu esplendor. Mas a voz daquele rapaz chamara muito a atenção de Vick então ela resolveu olhar para seu rosto. Era de uma pele clara, quase branca, e delicada, tinha olhos concentrados e uma expressão séria, mas não rude, e sim natural. Tinha cabelos pretos que contrastavam com sua pele, mas combinavam com seus olhos, negros e profundos.
- Qual seu nome? – perguntou enfim.
- Jay. James, mas pode me chamar de Jay.
- Meu nome é Vick.
- Eu sei.
- Sabe? Como?
- Não importa.
Ela não conseguia parar de olhar para o garoto, que por sua vez, ainda olhava para cima com ar despreocupado. Parecia bem enigmático e era atraente demais para nunca tê-lo notado. Por impulso ela passou a mão nos cabelos dele, e sentiu uma sensação maravilhosa, inexplicável, mas logo a retirou e, tímida, abaixou a cabeça olhando para o chão a sua frente.
Após mais alguns instantes em silêncio, Jay a convidou para um passeio, e juntos caminharam aparentemente sem rumo. A jovem estava se sentindo atraída por aquele rapaz estranho, e achava que isso seria divertido.
- Onde você mora? – perguntou ela.
- Você vai descobrir logo.
- Você é bem misterioso.
- Gosta de aventura?
- É um convite?
- Não, uma intimação.
O sorriso descontraído e a piscadela de Jay fizeram os olhos de Vick brilharem enquanto andavam lado a lado, olhando um para o outro.
Em certo momento, andavam por uma rua que se encontrava deserta e quase não tinha iluminação uma vez que estavam no interior, em uma região pouco habitada. Entraram no pátio de uma velha casa abandonada e seguiram por um estreito corredor ao lado da residência que levava aos fundos do terreno.
Era madrugada, mas a resplandecência da lua em sua fase cheia, permitia ver que o gramado era bonito. A única coisa que existia no centro dele era um grande poço redondo. James foi até lá e apesar do poço estar descoberto, se escorou na beirada dele. Vick fez o mesmo, e naquele instante pode visualizar a parte de trás daquela casa abandonada. Era realmente muito velha e havia sofrido os efeitos do tempo, que aparentava ser de muitas décadas. Mas não foi isso que mais chamou a atenção da garota, e sim o símbolo pintado por toda sua frágil parede de madeira. A pintura era enorme e também parecia antiga.
- Quem fez isso?
- Esta casa era de meu avô. Ele havia perdido os seus pais muito jovem. Não tinha parentes próximos aos quais pudesse pedir ajuda, então viveu o resto de sua vida aqui. Foi ele quem fez a pintura. O pentagrama invertido com a imagem de Baphomet era o símbolo da Igreja de Satã, de Levi. Meu avô veio a se tornar satanista depois que conheceu uma garota no bar onde trabalhava. Eles tiveram apenas um filho, o qual meu avô criou até se tornar um adolescente. Conforme a história, meu avô matou a namorada após o nascimento de meu pai, ensinou tudo o que sabia a ele, e mais tarde cometeu suicídio. Sozinho no mundo, meu pai continuou a morar nesta casa e a praticar o que meu avô lhe ensinou. Conheceu uma garota que nem ele e tiveram um filho. Minha mãe morreu um tempo depois, mas não se sabe o porquê. Três anos atrás meu pai se suicidou, e aqui estou eu, na casa condenada. Diz-se também que este poço guarda muitos segredos.
- Então você também se tornou satanista?
- Não é uma questão de se tornar. É uma questão de ser. Somos todos filhos de uma mesma divindade.
Vick ainda olhava deslumbrada para a pintura na casa, quando Jay apareceu na sua frente e se aproximou dela. Enfim eles se beijaram, e a garota então percebeu como estava quente ali. James interrompeu o momento:
- Quero que conheça a minha família.
Ela ficou surpresa mas não houve tempo para falar. Sentiu o corpo do rapaz pressionar o seu até se desequilibrarem e caírem dentro do poço. A última coisa que ela viu foi a lua, lá no alto, que parecia brilhar mais do que nunca.

DJA_Lady


Nenhum comentário:

Postar um comentário