Anjos negros
Cidade grande.
Pessoas normais.
Madrugada fria.
Três horas.
Enquanto os humanos normais descansam em um sono tranqüilo, nós, as criaturas da noite, começamos a nossa jornada.
Os astros nos inspiram a viver.
Somos as aves negras que rondam as praças na noite.
Nosso prazer é saciado à luz do luar, nas calçadas, cemitérios...
Nada de histeria.
Sentidos aguçados.
Nada de vozes.
Apenas sussurros e ecos dos lobos que uivam intensamente para a lua.
Os anjos da noite estão soltos.
A imagem de seus rostos é retorcida.
Seu olhar é profundo como aquele velho poço.
Águas rubras. Paradas. Mórbidas.
Impossível definir se são anjos ou demônios.
Demônios que não fazem mal nenhum.
Não cometem crime algum perante a lei.
Mas seus hábitos são uma heresia diante do olhar crítico da sociedade hipócrita.
São apenas sombras, vagas, sem forma.
Almas. Almas oprimidas que vagam pela noite refletindo as trevas como um espelho infinito.
Almas doentes. Amarguradas.
Almas que usam corpos para ter a chance de sentir o ar puro e fresco da noite.
Almas que saciam a fome de liberdade enquanto a cidade dorme.
A lua.
A lua é sua única testemunha.
Seres solitários que não amam.
Mas choram.
Choram pela dor de serem humanos.
É seu pior castigo.
Seres solitários que andam sem rumo.
Sem restrições. Sem limites.
Lábios e mãos banhados em seu próprio sangue.
Prazer e dor. Perfeição.
Nas ruas. Nas calçadas. Nas praças.
Na noite.
Anjos negros que não têm asas.
Se tivessem poderiam voar.
Mas vagam. Vagam pelas ruas à noite.
Mas ainda são humanos. E o dia recomeça.
Voltam a fingir que são pessoas normais.
É a rotina dessas pobres almas.
Até que a morte os liberte de uma vez.
DJA_Lady
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